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CONTO: Faísca Velha e o Corredor da Morte.


INTRO/ CASA DE BARNEY/ NOITE
Barney caminhanhava vagarosamente pela sala de sua casa, internamente iluminada pelos abajures dispostos a cada canto. Em sua mão esquerda segurava uma enorme garrafa de vodka, e, na direita, um revolver RT 44, calibre restrito, com cano comprido e 242mm, 6 tiros e mira ajustável, pesando em torno de 1.315g.
Em off o som dos gemidos da esposa de Barney ecoava. Barney se contraiu, olhou para um porta retrato que estava em cima de uma escrivaninha velha e decaída. No quadro um casal, uma mulher sorridente e com longos cabelos louros, ao lado de um Barney também sorridente.
Barney, fitou profundamente o porta-retrato, uma lágrima desceu dos olhos e escorreu até o terno, o porta retrato caiu no tapete estufado. Ele caminhou mais alguns metros, chegou até a porta do quarto e, lá, viu sua amada transando com um jovem rapaz  que beirava a casa dos 19 anos. Desviou o seu olhar para a RT 44, tocou a maçaneta e a girou (…)
FLASH!

1

Em toda penitenciária de segurança máxima há sempre um cara como eu. Aquele que pode arranjar maços de cigarros, alguns livros capa dura, fotos de mulheres nuas, e até mesmo acesso a internet, se assim você quiser. Mas tudo o que estiver ao alcance.
Mas isso começou em 1935, quando a prisão de Molfon ainda estava lá, em Carolina do Sul, e é claro a cadeira elétrica também estava lá.
Lembro da primeira vez em que entrei em Molfon, fui acusado de estupro qualificado – Deus do céu, existe isso? – pois bem, se existe ou não, fui julgado de qualquer forma. Entretanto, nesse meio tempo vi coisas que até Deus duvida. Coisas que, se eu não contar para alguém, creio que eles não me deixarão em paz.
Mas, afinal, Molfon nunca esteve em paz. Muito menos a Cadeira Elétrica.
O corredor da morte é o nome mais tenebroso na penitenciária. Os presos costumavam brincar, e fazer piadas irônicas sobre ela, eles falavam em como os testículos dos presos iriam virar ovos fritos, e davam nome a cadeira Elétrica, chamavam-na de Faísca Velha. Quero deixar claro que essa não é uma estória da qual vocês tem que sentir dó, pelo contrário quero que sintam medo. Porque eu senti, aquelas coisas me perturbando, aqueles gritos de tormento. Por isso vou ter que contar, vou ter que desabafar.
E esse dia chegou.
O corredor da Morte, aguarda a sua visita.
Se vocês não se importarem quero falar para vocês, mas sobre o Corredor da Morte. Como já disse estou aqui há muito tempo e vi coisas terríveis, em 1935, a condenação pela Elétrica, ainda era legal nos Estados Unidos. Todos temiam, uma vez lá, nunca, jamais, nunquinha, voltariam. Molfon era conhecida por ser a prisão mais temida do Estado, os presos faziam questão de morrer ao invés de ir pra lá. Foram tempos difíceis.
Hoje tenho 54 anos, do muito que já vivi, tenho direito absoluto na prisão, mas não foram bem assim no começo. Quando entrei em Molfon, eu ficava pensando em quantos estrupadores, assassinos, malfeitores, e inocentes já sentaram na Fagulha Velha. E aqueles gritos? Aquelas almas? Para onde iriam? Estariam vagueado por lá? Deus, não quero nem pensar.
A cadeira Elétrica é talvez algo que nós tomamos como concedido para hoje em dia como o mais rápido 
caminho e a mais humana forma de executar um ser humano. Nos primeiros dias, no entanto, os defensores do uso da eletricidade como um meio de morte, teve que provar que era realmente a maneira mais proficiente de execução. Mas é claro eu isso só foi nos primeiros anos. Apartir de 1976, quando um homem chamado Kammelet não morreu, como era esperado. Kammelet ficou 17 segundos ainda vivo, e vendo a pele queimada saindo de seu corpo, no ar o cheiro de carne queimada, fétida. Depois desse caso, os governantes começaram a pensar menos na cadeira Elétrica, e ficando mesmo com o enforcamento. Mas isso foi provisório, depois que não teve mais incidentes, a Fagulha Velha voltou a dar o ar de sua graça.
Bem, aonde quero chegar é que não sou nenhum telepata, ou um John Constantine, muito menos George A. Romero. Contudo o que quero explicar a vocês é que, como estou a tantos anos aqui, fiz amizades com quase todos os detentos no corredor da morte. Em 1930 conheci um cara chamado Andrew Barney, o cara ficava na defensiva, quase não falava nada, entendem?
Barney foi acusado de matar a esposa e o amante, os dois foram encontrados transando loucamente, e Barney viu tudo, mas tenhamos que admitir, a vagabunda da esposa de Barney era linda.
Andrew foi condenado à prisão perpétua pelas duas mortes. E ele ainda insiste em dizer que é inocente. Acho que ele vai se dar bem aqui em Molfon, porque todos nós somos inocentes, não é mesmo?
Ops! Esqueci de me apresentar! Que falha minha, me chamo Green, exatamente, Green conhecido por só receber verde nas folhas de libertação de prisioneiro, isso é para saber se eu estou apto a ir para o outro mundo, o mundo da liberdade.
Agora já que vocês sabem do corredor da morte, da cadeira Elétrica, de Andrew Barney e de mim, acho que a hora da gente ir contar esta estória chegou, então vamos, entre até a minha sela, é logo ali no final do corredor.

2

Molfon já teve vários diretores, em 1878 o diretor Stefan Woo, foi o causador da maior rebelião, deixando os presos sem ar, e sem água tudo isso porque um idiota comeu um bombom que ele havia deixando em cima do balcão, mas o interessante nisso, sabe o que é? É que o tal idiota que comeu o bombom, morreu dois minutos depois, aquilo era tudo um plano de Stefan.
A ascensão de Stefan ocorreu de 1878 á 1890, dizem que ele morreu de causas naturais, mas todos os presos sabiam que não, não mesmo.
Depois de Stefan veio outros, e outros, e chegamos ao horrendo Betaldiner Snotfield, sim é um nome difícil de se pronunciar, e também difícil de se compreender. O desgraçado foi o responsável por mandar Barney para cá, creio eu que Snotfield tem algo para ele. Mas isso a gente vai saber depois.
As luzes de Molfon, se apagaram momentaneamente, hora de dormir. Quando se esta preso, a noite demora a passar, não só a noite como o tempo. Um minuto no inferno é o equivalente a um ano em Molfon. E, naquele dia, os presos começaram a sacanear com os novatos.
-Ei gorducho! Que traseiro enorme você tem! Sabia que, aqui em Molfon têm as Bichas que gostam muito de gordinhos…
E todos os presos do pavilhão começaram a rir.
-Amanhã a gente vai te apresentar elas viu?
E o tal gordo não aguentou a pressão e começou a gritar.
-Aqui! Me tirem daqui! Esse não é o meu lugar! Eu sou inocente!
Na verdade, todos nós somos inocentes, lembra?
- Mas que porra é essa? – Era a voz do guarda mais temível de Molfon, Calie.
-Nada chefe! – Esbravejou um dos presos.
-Me tire daqui! Eu quero a minha mãe!
O Gorducho deveria calar a merda da sua boca.
- Cala essa merda de boca, ou eu serei obrigado a enfiar o meu cassetete nesse seu traseiro gordo!
Mas o cara não calou, coitado. Calie tirou as chaves do bolso abriu a cela e puxou o gordo pela gola do uniforme penitenciário, em seguida o jogou no chão e começou a dar-lhes pontapés, socos, Deus do céu! Calie fez o que disse que iria fazer. Pegou o cassetete e enfiou naquele lugar, bem no traseiro do pobre coitado.
Aonde o sol não bate.
Lembro-me que os presos não aguentaram ver aquela cena de estupro, depois do trabalho feito os guardas deixaram o corpo lá, espatifado, frio, morto.
Mas o que me surpreendeu foi que, Andrew Barney, não disse nada, não deu nenhum pio.

3

No dia seguinte, depois daquela cena horrenda, perguntei para um dos enfermeiros de plantão na noite passada se ele tinha notícias do gordo.
- O médico já tinha ido embora, coitado. Quando o doutor chegou hoje cedo, já não se podia fazer mais nada.
Contei para ele quem eram os responsáveis de deixar o tal gordo naquele estado. Barney estava do nosso lado no refeitório, e soube também da notícia.
-Qual era o nome dele? – Perguntou Barney, na defensiva.
-E o que isso importa? O cara já morreu! – esbravejou um sujeito ao meu lado.
-O cara morreu sem um nome – disse Barney.
E realmente, o cara gordo morreu sem um nome. Aquele assunto logo, logo foi esquecido, dando passagem para outros mais importantes como, a fuga de um prisioneiro pelo esgoto.

4

Naquele dia mais tarde, Calie recolheu todos os presos condenados a Cadeira Elétrica para o corredor da morte. Os primeiros dias te deixam livre – por assim dizer – contudo para mostrar a gente o lado bom e o ruim de que poderíamos ter em Molfon. Os guardas enfim recolheram em torno de 15 condenados, e dois deles eramos eu, e Andrew Barney.
5
Quantas vezes já tive pesadelos terríveis com a Fagulha Velha, aquela traiçoeira e perversa cadeira elétrica. Vendo aqueles condenados fritando. Uma coisa eu sei, a Fagulha Velha era cruel, imaginem, mais de 2.000 volts passando pelo seu corpo? Teria chance de sobreviver? Não, creio que não, ao menos se existisse algo, mas não, não mesmo!
O corredor da morte! A cadeira Elétrica, e um condenado inocente.
Com esses pensamentos, tive um pesadelo.
Hááááá – Gritos agonizantes.
Socorro!
Estou queimando!
O condenado se contorcia tentando se soltar, uma esponja mochada com uma solução especial escorria pela testa.
-Queima, Queima, Queima…
Sussurrava o terrível guarda Calie.
-Desligar a 2!
E um outro guarda obedeceu a ordem girando uma manivela, que desligou a energia que ligava a cadeira Elétrica. Três dos guardas retiraram os cintos que prendiam o executado, e por último retirou o capuz negro.
Deus do Céu!
E o morto queimado que estava sentado naquela cadeira, era eu.
6
Despertei assustado, aquelas vozes começava a me perturbar, sussurros e grunhidos estanhos, e aquele pesadelo: eu, na cadeira Elétrica, queimando. Eu poderia ignorar as chances de morrer, mas uma hora ou outra isso haveria de ocorrer, e da forma mais horrenda possível. Senti na boca o gosto de queimado, mas só era um pesadelo.
Um pesadelo que iria se concretizar.
Andrew Barney veio falar comigo pela primeira vez, antes é claro de irmos para o corredor da morte, em meados do verão, praticamente 3 dias depois de sua estada em Molfon. Percebi por sua aparência, que era na outra vida um homem poderoso, mas nem o dinheiro compraria a sua liberdade. Ele chegou ao meu lado, e disse com a sua voz meio rouca e áspera.
-Fiquei sabendo que você é o cara que consegue as coisas, não é?
Olhei para ele, dos pés á cabeça, e depois o olhei nos olhos.
-Tudo que estiver ao meu alcance.
Ele deu um sorriso em falso, mostrando os dentes brilhantes de outrora.
-Queria que você conseguisse para mim, uma borracha.
-Borracha? – Perguntei achando o pedido estranho.
-Sim – ele confirmou.
-O que vai fazer com uma borracha em Molfon? – Ele me olhou, e continuei – apagar a burrada que você fez?
-Pensei que era só pedir, te pagar, e você arrumar o pedido, não se intrometer com o que iriamos fazer – Ele disse em um tom de ironia, mas suave.
-Olha, geralmente costuma fazer isso, mas, quando algo estranhamente é pedido, creio que eu tenha que saber para o que isso venha a servir, entende?
-Sim… Claro… – respirou fundo e prosseguiu – como disse vou tentar apagar a burrada que eu “Fiz”
As últimas frases soaram com o ar de isolamento, tristeza. Franzi o censo, ele ergueu as sobrancelhas.
-Tudo bem, isso lhe custara 8 maços de cigarro, e mais 100 dólares, pra virar cliente.
Ele deu novamente um sorriso de canto.
-Mas 8?
-A mercadoria passa pela alfandiga.
-Só ser for alfandiga mesmo, mas aceito os seus acordos – ele levou a mão para me cumprimentar – Blue, engraçado nome.
E quando se virou para ir embora, eu o chamei sua atenção.
-Afinal, porque fez aquilo?
Porque matou a sua esposa?
-Não ouviu nos noticiários? – Ouve uma pausa – Sou inocente.
Sim, claro, todos nós somos inocentes, e naquele mesmo instante me simpatizei com Andrew, o condenado a fagulha velha.
7
15 DIAS PARA A EXECUÇÃO.
Demorei certo tempo para conseguir a mercadoria insana que Andrew me pedira tempos atrás. Agora oficialmente estamos no corredor da morte, uma vez lá, nunca mais saímos. Mas era lindo, exatamente era lindo o chão, liso com o piso de linóleo e brilhava com as poucas luzes que ainda reflectia no assoalho. Era longo, havia selas de todos os lados, no máximo 20, de 10 de cada lado. No final do corredor um quarto – provavelmente – a sala de execução, a mais temida.
A minha sela ficava ao lado de Andrew, assim, por sorte poderíamos conversar. Sim conversar. Naquele mesmo dia, descobri pelo cano do esgoto da minha privada que Andrew poderia escutar. Agora pensem, falar com outro cara pelo ralo de onde passa a minha merda e de outros condenados. Isso era realmente nojento e repulsivo, mas era a penitenciária de Molfon.
Com a boca e o nariz na passagem de merda, chamei Andrew.
E por ai começamos a conversar, jogávamos dama, conversávamos sobre Angelina Jolie nua, quadrinhos, enfim, tínhamos algo para fazer até o dia da execução de ambas as partes.
 Lembro-me, que amanhã, será o dia da execução de um dos condenados, e como é de praxe todos nos iriamos assistir.
8
Eis que chega o dia de um dos condenados dizer adeus a esse mundo hipócrita. Ou pelo menos é assim que achávamos que ele era.
Naquela manhã, os guardas fizeram todos os procedimentos para a execução, rasparam a cabeça de John Vight, que foi acusado por estuprar e matar duas meninas dentre 11 anos de idade.
Faltava apenas 15 minutos para a execução, que estava programada para ás 12:00 em ponto. Prenderam John na cadeira, e no final o guarda se aproximou na frente de John e disse as seguintes palavras de sempre:
John Vight, á eletricidade passara pelo seu corpo até que você morra, de acordo com a lei estadual. Quais as suas últimas palavras?
-Estou indo para o inferno BB!
E após isso, os guardas não hesitaram, era meio-dia em ponto.
-Ligar á 2!
E todos os presos assistiram a morte horrenda de John Vight. O cheiro de queimado, aquele cheiro horrível.
Aquele ranger de dentes.
Depois de toda peleja, retiram o corpo, e o jogaram em uma maca e o levaram para um outro corredor, escuro e tenebroso.
A pergunta que não calava era, Quantas pessoas morreram ali? Quantas almas condenadas lamentaram? Quantos inocentes queimaram ali?
E em breve seria a vez de Andrew Barney.
E naquela noite tive um pesadelo.
9
CLARÃO!

A penitenciária estava escura, nenhuma luz ecoava, nenhum guarda, nada só a escuridão.
Espere! Havia uma luz, uma pequena centelha, que vinha do lado de dentro de uma porta blindada. Molfon era mais assustadora do lado de fora, não hesitei, e fui caminhado pelo gramado, até chegar nessa porta, da qual poderiam salvar de qualquer forma da escuridão.
Calada, fria e sombria.
Meus passos começavam a ficar mais largos, tentando sair logo daquele lugar. Quando me aproximei até a porta, ela abriu sem ao menos se toca-la, respirei fundo, agora estava em minhas mãos.
O lado de fora de Molfon ou O lado de dentro?
Fiz a minha escolha, entrei. E em seguida levei um susto, a porta atrás de mim, se fechou abruptamente, fazendo o som da batida sair em forma de ecos. Depois do susto me virei novamente para o corredor, mas as luzes que iluminava o corredor foram se apagando, uma seguida da outra, momentaneamente.
Como trilha, só o som da minha respiração ofegante. No breu.
E nesse momento, fui concebido com um vento subitamente apavorante acompanhado com um frio do atlântico. Mas durou poucos segundos, a ventania sessou, levando consigo o terrível frio. Ainda no escuro, optei por continuar a caminhar, não sabia para onde ir, então levei minhas mãos, até a parede, para ter uma noção de onde ir, deslisando suavemente minhas mãos pela parede, percebi que a densidade da parede mudou até certo ponto, senti como se tocasse em algo gelado, apalpei mais ainda.
Peixe. Gelo. As Geleiras do polo norte. Defunto!
Oh Deus! Defunto!
Sim, acabara de tocar um defunto. Retirei minhas mãos do ser. Tentei -me acalmar, precisava sair dali, encarei novamente por deslisar minhas mãos pela parede, mas novamente fui surpreendido por vários defuntos, um atrás do outro, engoli em seco, franzi o cenho. Mas continuei. Então, senti uma fechadura, acabara de chegar em outra porta. Senti a maçaneta, a toquei, e a girei.
Luz!
A luz, voltara. Demorei certo tempo, para que meus olhos se acostumasse com o aspecto, mas ainda com a retina embaçada, vi ao meu arredor corpos ensanguentados.
Pavor! O pior pavor!
Necrotério. Provavelmente eu deveria estar em um necrotério. Estava frio, muito. Os corpos estavam espalhados por todos os lados. E no meio dessa multidão de mortos, lá estava a cadeira Elétrica, e sobre ela assentado um outro corpo, com um capuz negro envolta de sua cabeça. Me aproximei, um silêncio tomou conta do local.
Frio. Pavor. Tensão. Silencio.
Toquei na mão fria do morto. A mão se mexeu, levei as minhas mãos para retirar o capuz da cabeça do homem, do qual ainda o sangue corria. Então.
Fechei os olhos de tanto medo. E antes de retirar o capuz.
A luz novamente se apagou. O frio cessou.

10
Acordei assustado, me debatendo sobre a cama. Demorei certo tempo para voltar a consciência. Quando voltei fui logo contar o mais terrível pesadelo que tive em tempos. Contei a ele tudo, e é claro que ele ficou com um leve receio, afinal esse era um pesadelo do qual ninguém queria ter.
5 dias para a execução.

11

Realmente eu não sabia em como morreria, mas morrer sentado na fagulha velha parecia uma forma irónica de partir.
Das cinzas para cinzas, do pó para o pó.
Duas vezes ao dia, todas as semanas, o guarda Calie vem nos punir com várias chicotadas, pensaram que estamos em tempos modernos? Pois é, estamos, mas mesmo assim, às vezes, ganhamos algumas chicotadas por apenas fazer nada. Mas as chicotadas ficam mais frequentes quando o dia da execução do condenado se aproxima. Ou como eu diria, O dia do juízo Final.
Devo admitir que contar essa história para vocês parece ser um bom passatempo, às vezes até me esqueço de que a qualquer momento posso morrer, não pela Fagulha Velha, mas de fome. Comemos migalhas todos os dias, ou praticamente restos.
Ainda fico pensando, em como os outros presos de Molfon estão agora, como estão lidando com as coisas, sem a mim para arranjar, coitados. Meu Deus, quem me dera se não fosse eu!
A ferida em minhas costas estava dando escaras, e muito pus, se não morresse na cadeira Elétrica, morreria com as minhas feridas. Certo dia, vi um bicho saindo dela. Mas deixe isso pra lá! Vocês não devem saber de tudo o que acontece comigo. Certo dia, Barney, continuava a dizer que era inocente e, sinceramente, já estava começando a acreditar nele. Mas, é claro que eu não tinha certeza se ele realmente se ele era. Até que um dia, no corredor da morte, a verdade veio com um guarda.
O nome do guarda era Gentil, com um maço de cigarro ele me contava as peripécias que acontecia em Molfon. E nesse dia, ele me contou tudo sobre um novo prisioneiro que chegou. Fiquei impressionado, e tive a certeza que Andrew Barney, era inocente.
Tudo aconteceu assim…
FLASH!
INTRO/CASA DE BARNEY/QUARTO/NOITE
Barney caminhava vagarosamente pela sala de sua casa, iluminada pelos abajures em cada canto da casa. Em sua mão esquerda segurava uma enorme garrafa de vodka, e na outra mão um revolver RT 44 calibre restrito com cano comprido e 242mm, 6 tiros e mira ajustável e pesava em torno de 1315g.Em off o som dos gemidos da esposa de Barney ecoava. Barney se contraiu, olhou para um portarretrato que estava em cima de uma escrivaninha velha e decaída. No quadro um casal formado por uma mulher sorridente e com longos cabelos louros, ao lado Barney também sorridente.Barney, fitou profundamente o porta-retrato, uma lágrima desceu dos olhos e escorreu até o terno, o porta retrato caiu no tapete estufado. Barney caminhou mais alguns metros, chegou até a porta do quarto e lá viu sua amada transando com um jovem rapaz com aproximadamente beirando a casa dos 19 anos. Desviou o seu olhar para a RT 44, pegou na maçaneta e a girou… Depois a largou, não teve coragem de prosseguir, saiu correndo deixando a arma cair sobre o tapete aveludado.Após sua saída, um outro homem, que observava a sequência deste o começo, no entanto estava escondido atrás da cortina da sala, pegou a arma que Barney deixou cair no tapete com um pano, para não deixar as suas digitais nela..Ainda no jardim, Barney ouviu tiros. Se assustou, Quem teria disparado os tiros?, no entanto quando ele voltou para a mansão se deparou com os corpos de sua mulher e amante, e sua arma estava caída no mesmo lugar. Barney com os olhos lacrimejados, percebeu que aquele era o princípio do fim.Em off, o som de sirenes ecoava a quarteirões dali.E foi assim, como tudo aconteceu.

12

Rapidamente fui contar para Barney, é claro que ele ficou paranóico, tinha a chance de sair dali. Queria por que queria falar com o diretor de Molfon, mas não conseguiu. Sua condenação já fora declarada, não tinha mais nada a fazer. E seria executado daqui a 4 dias.

13

2 dias para a execução.
Andrew passou seus últimos dias calado, isolado, sequer trocava uma palavra comigo. Mas a noticia que Andrew era inocente começou a se espalhar por toda a prisão, e os presos exclamavam: Deus do céu! Barney é mesmo inocente!
E creio que sim, que ele era o único inocente de todos nós aqui.
Mas nesse mesmo dia, um guarda veio até a minha cela, e me conduziu a sala do diretor.
-Ora, ora! – Pronunciou Betaldiner, severo como de praxe.
E continuei ali, em pé, e sem olhar diretamente em seus olhos cor de fogo.
-Sente-se! Ande! Sente-se!
E assim eu fiz.
-Vejo que fez uma amizade nesse meio tempo, não foi?
-Sim – falei, inseguro.
-Olha, fiquei sabendo que seu amigo descobriu a verdade, certo?
-Acho que sim.
-Fale direito comigo, inseto!
-Sim senhor, ele descobriu.
-Pois bem, hoje você será liberado do corredor da morte, não só dele, como de Molfon. Será inocentado de todos os crimes, contanto que não fale mais nada a Andrew.
-Porque isso, senhor?
-Simples, certo dia, fui até o banco, do qual Andrew Barney, era gerente, minha vida estava a míngua, pedi um empréstimo, mas o desgraçado não me concedeu, me ignorou, me tratou como se eu fosse um verme. Agora ele deve pagar, o que ele fez comigo.
No entanto, fiquei a deriva, não falei nada. Com uma raiva tremenda Betaldiner jogou o copo de água em um quadro, que estava escrito.
“A JUSTIÇA CHEGA PARA TODOS”
Quando voltei para minha cela, peguei algumas coisas minhas, em cima de minha cama, achei um envelope, era um encomenda que tinha pedido a algum tempo, peguei o envelope, e o abri.

14

Peguei minha bagagem, mas antes fui até a cela de Andrew me despedir. O olhei nos olhos, e ele retribuiu o olhar. Levei minha mão até a sua, e nos cumprimentamos.
-Te espero ver algum dia, velho amigo.
E então ele percebeu que eu tinha deixado algo em sua mão.
Ao longe senti o cheiro de liberdade. Os portões se abriram.
Eu estava livre! Livre!

15

15 minutos para a execução.
Sentando em sua cama, Andrew observava na palma de sua mão um objecto.
-Pronto, Andrew? – Perguntou Calie educado.
Ele disse que sim com a cabeça.
E em seguida, Calie começou a raspar a cabeça de Andrew, e naquele súbito momento começou a chorar, calado, em silêncio.
Depois, ele vestiu um uniforme branco. E então o prenderam e o começaram a levá-lo para o corredor da morte.
-Posso tomar água antes? – Pediu Andrew.
Calie o permitiu. Afinal só era um copo de água.
E então ele tomou.
Quando chegou a ver a cadeira elétrica, seu corpo estremeceu. Em seguida o amararam. Molharam uma esponja e colocou em sua cabeça. E sem seguida um capuz cobrindo-lhe o rosto.
Todos os condenados, e o director de Molfon foi presencias a execução.
E, em seguida, Calie prosseguiu dizendo.
- Andrew Barney, a eletricidade passara pelo seu corpo, até que você morra, de acordo com a lei estadual. Que assim seja.
Barney, respirou fundo.
-Antes, quero dizer algo para o Diretor!
E todos na sala se contrairam, inclusive o director Betaldiner.
-Não tive culpa do ocorrido, eu era apenas o gerente, estava cumprindo ordens. Mesmo assim, me desculpa.
-Já chega! Ligar a 2! – Ordenou Betaldiner.
E assim se fez. Andrew gemeu, não demorou muito. E a execução já estava feita.
Andrew estava morto!

16

Alguns dos guardas pegaram o corpo de Andrew, e colocou em uma maca, e o levaram para um local escuro. O guarda então abriu uma espécie de alçapão, e jogou o corpo lá. O corpo de Barney se colidiu contra outros corpos. Alguns minutos ali. A mão de Baney corta o saco preto que o prendia.
Estava vivo! Andrew estava vivo!
E então ele começou a correr, correr, correr. Parecia que sabia para onde iria. Como poderia sobreviver á 2000 vts?
2 DIAS DEPOIS.
Com uma roupa elegante, Barney foi ate uma delegacia e explicou as milícias e como Molfon tratava os condenados e aonde eles jogavam os corpos.
Os policiais no entanto, não mediram esforços, e foram prender Betaldiner. Mas, eu ouvi dizer que quando os policiais chegaram lá Betaldiner tinha se  suicidado.
Agora eu penso, o que deve ter passado na mente dele, além da bala? Pois é. Essa era a redenção de Molfon.
E outra, disseram que Calie chorou feito uma mulherzinha quando o prenderam. Ninguém, nunca mais ficou sabendo de onde estava Barney em nem de mim.
Alguns tempos depois Andrew e eu nos encontramos novamente. E nosso encontro foi em um lugar lindo do qual todos nós ex penitenciários, por assim dizer, desejamos.
Estávamos na sombra do braço do Cristo Redentor, Rio de Janeiro.
Nos abraçamos, e mostrei a ele a família que tinha no Rio. E depois fomos conversar em como tudo realmente aconteceu.
-Parece que tudo deu certo – confirmei.
-É, deu certo sim.
-E como foi? Conte-me
FLASH!
MOLFON/CORREDOR DA MORTE/TARDE
O fato que vem a seguir é narrador por Andrew.
Blue pegou um envelope e o abriu, dentro dele, continha uma cápsula. Em seguida foi até a minha cela, e me cumprimentou, deixando comigo essa cápsula e um pequeno papel escrito.
“Não sei se isso vai dar certo, mas não custa nada tentar. Essa cápsula que esta em sua mão é feito com aquela borracha que você me pediu, lembra? Pois bem, tome ela, quando estiver na hora da sua execução, ela fará com que a eletricidade diminua em contato com o seu corpo. Seu coração vai parar de bater, mas vai voltar em 15 minutos, vão te jogar junto com outros corpos em uma floresta, quando acordar corra, o mais rápido, há uma roupa para você na 89ª árvore a sua esquerda, vista-a e conte tudo o que há de mais perverso em Molfon. Se tudo der certo até aí, me encontre, estou no Rio de Janeiro, nos braços do cristo.
Espero que esteja bem meu amigo.
BLUE!

17


-Perfeito! – Falei.
-E agora, aonde vamos?
Pensei e depois disse.
-Para qualquer lugar, que não seja no inferno.
E o sol de repente, pegou tons carmesins, dando origem a uma aurora boreal. E assim damos, o tão esperado..
Fim!
Dedicado á The Green Mile and The Shawshank Redemption de Stephen King

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QUERIDO LEITOR , antes de mais nada, quero te agradecer por estar aqui. Quero dizer também, que se for a primeira vez aqui em meu site, que você possa ficar a vontade. Tem muita coisa por aqui, e você pode ler se quiser. Outras tão antigas quanto a velhinha do picolé. Essa aqui, está quentinha, será dividida em Duas Partes, essa, a Primeira como "HOLLOWAY: O PRIMEIRO DIA, DO RESTO DE NOSSAS VIDAS" . E, a parte dois como "HOLLOWAY: NÃO HÁ TÚMULO QUE PRENDA O MEU CORPO" . Me inspirei em filmes, musicas e em livros que gosto, abordando uma narrativa nos olhos de uma segunda pessoa na trama. Pode parecer cansativo, e de fato, é! Mas gostaria que se apegasse aos fatos, e não ao narrador. Existe uma crítica social, racial e politica. Não se passa no Brasil, embora algumas coisas podem, e vão ser questionadas. Espero que goste, aliás, realmente espero que goste.  Johnn Carneiro. ps* tentei concertar ao máximo os erros, não sei se consegui. _________ "Pagamos por tudo

ROTEIRO WEB-SERIE: "QUEM SERÁ O PRÓXIMO?"

Ano passado estava desenvolvendo esse projeto com uma galera, infelizmente o tempo passou e os "Produtores e o Criador" decidiu cancelar a série. Esse foi a minha contribuição para essa web-serie. Lembrando que era uma série versão guerrilha, ou seja sem dinheiro, sem atores profissionais e sem equipe. Mas, o que importa é que a gente curte essa arte e sente um tesão danado por ela. Deixo aqui o roteiro piloto da segunda temporada da série que tinha data prevista para Janeiro desse ano. -- SEASON 2 EPISODE 1 "OS CARAS LEGAIS" MOSTRA RAPIDAMENTE UMA PROMO DA TEMPORADA ANTERIOR, MOSTRANDO OS MELHORES MOMENTOS, QUE LEVARAM ATÉ AGORA. E ENTÃO; FADE IN 1 EXT.FLORESTA.TARDE Os Dois caras chegam na floresta, onde ocorreram todos os assassinatos. De um lado temos um negro, chamam ele de Morales "The Bang" , o conceito pejorativo do "Bang" é que ele sempre gostou de explodir as coisas, e sempre quando resolve um caso